25 dezembro 2012

Os outros

Os outros são viajantes. Viajam na imaginação proporcionada pelo livro que lêem no comboio que viaja cidades de um mundo que viaja todos os anos o mesmo caminho. São ligeiros, os mundos que viajam entre nós, que se cruzam em todas as ruas construídas por corpos que só serviram de transporte para a vida. Nota que eu estou aqui, contigo, porque tu estás a ler este texto que é meu. Tu tens na cabeça palavras e panoramas que eu estou a fazer-te imaginar. E, mesmo assim, pertencemos a mundos diferentes. Histórias paralelas com sonhos incomparáveis e tesouros ultra-dimensionais dentro de nós. E, no entanto, se fores de Lisboa, já passaste por mim, já me pisaste o pé sem querer, já te pedi com licença quando estavas parado/a numa escada rolante de qualquer centro comercial, talvez.
Estamos juntos pelo espaço. É isso. O espaço, esta massa corporal, física e tocável é a única coisa que nos une. Porque nem os sonhos. Podemos ter os mesmos, mas só juntaremos forças para a concretização dos mesmos através dessa matéria tangível. Porque somos de mundos diferentes, uns dos outros. Cada um de nós viu voltas diferentes que a vida dá.
No fim, quem for bom em álgebra, estará vivo de tanto saber que somos já sete biliões de sonhos diferentes. De projectos que podem tornar-se realidade, de universos que podem tornar-se verdade. Eu sempre te disse que éramos super-homens, hã?

13 dezembro 2012

Baby

Todos os lugares foram grutas onde fizemos amor. Todas as pedras seguraram os pássaros que nos embalavam a dança da corte que aprendemos a fazer um com o outro. Todos os Reis e Condeças testemunharam o nosso caminho ao sagrado. E todos os deuses receberam a nossa apoteose sem qualquer problema com a nudez. A nudez do teu sexo e das tuas bochechas rosadas, contraste com a pele branca que refletia o sol no topo da serra. Ali, tu brilhavas.
 Todos os dias inventávamos canções, todas as histórias eram nossas, de mãos dadas, e todos os cães sorriam com o rabo ao ver-nos assim. Porque nós falávamos com eles. Todas as roupas serviram de manta e todos os beijos foram o primeiro. E todas as rochas em que nos deitámos estão marcadas, pelo cheiro, pelo desgaste, por mais que tenha sido pouco, que lá fizemos, deitados, a fazer amor.
 É por isso que foi sagrado.

10 dezembro 2012

Slow update


Eu vou ler este livro devagar.
Vou viajar deitado neste sofá pelas vidas deste livro tão cheio de vida enquanto bebo o vinho tinto, de sabor quente, que me finaliza o jantar. Porque os livros são assim, eternos por não sabermos quantas vidas abrigam. Por não sabermos quantas vidas tem essa vida.
Está frio lá fora, é véspera de Dezembro e uns livros esperam em fila, já saturados, que eu os leia. É essa a minha alegria: estar cheio de livros para ler. E este eu vou lê-lo devagar, abrigado pela luz fraca e amarela do candeeiro de pé. Mas não vou lê-lo devagar só hoje, irei fazê-lo amanhã e depois e depois, sempre com a manta velha e pesada que me cobre o corpo todas as noites.
E a lareira assiste-me, ardendo por um trago de vinho com tons de madeira que beberico ao ler este livro devagar no sofá. Hoje vamos viver devagar.