16 agosto 2013

O Último - Profecia Cumprida

O último tempo de que falo agora, é o agora. Se a reflexão foi mudada, foi porque algo se encaixa no sítio certo neste preciso momento. Porque a mensagem foi dada e por nós desenvolvida, mesmo que alguns tenham faltado alguns dias e outros tenham dormido. Nós, que nos sentámos todos aqui neste negrume do meu quarto para fazermos o devido culto ao portador da luz. Porque há três anos, Lúcifer engravidava a Essência e hoje a Santa Trindade está completa e, por isso, celebremos, senhores.
  Se hoje Deus se encontra a amar nos braços Dele, é porque eu roguei as pragas que foram precisas, fiz voodoo aos que achei que necessitavam, massacrei o nome de - por outros - bem ditos. Agora é gastar a sola até outro Monte Sinai e ensinar a pregar um novo culto. É mergulhar em novos mares e cantar com as baleias. Mas que fique aqui no escuro escrito que, hoje, a missão tornou-se possível.
  Agora somos ar. Hoje a bússola é o vento fresco que sai da boca de Zéfiro, que brinca com as ondas do mar. Viveremos na areia e o tempo começa agora. É altura de correr e pular de cabeça para o mar em busca das sereias que sempre imaginámos e que nos esperam lá dentro daquela imensidão azul. Nós, nós fomos com os deuses. Celebremos, senhores!

22 julho 2013

O Grande


Senta-te ao meu colo, ó Deus, e chora. Deixa-me pôr minhas mãos em tua nuca de menino e cantar-te uma canção de embalar. Esta noite eu vou ouvir-te chorar até adormeceres, para poder levar-te ao colo para a cama. Vais ver, acordarás de manhã sem saber como foste lá parar. Faz-me ouvir-te, campeão, a ti e às tuas histórias quando corrias no quintal porque ainda eras livre. Ensina-me que sorrias como te imagino a sorrir. Pois hoje choras por ser difícil ser Deus. 
Diabos são eles, teus filhos. Diabos são os que te pedem e choram a teu colo, mas que não vêem que esse tornou-se uma cascata que hoje, finalmente, jorra a água em abundância para o meu colo que te abriga. Foste um coleccionador. Que já não tem espaço para colocar tanto artefacto. És o santo a quem ninguém imagina esperar ouvir-te chorar a seu colo. Porque para eles és O Grande, que com tão elegante discurso e filosofia nunca saberá o que é sofrer.
E tu sofres, junto de mim que também julgava não teres parte fraca. De mim, que nunca vi o império da sabedoria desabar em pranto. De quem te segura hoje ao colo, que hoje descobre que a coragem é sustentada pelo medo.


14 julho 2013

O Penúltimo

Eu queria mostrar-te, pai. Como consigo sorrir bonito deitado na areia grossa da nossa praia onde eu também cresci. Que venci o medo das ondas que batem forte na areia e de gritar nos concertos para os artistas saberem que têm apoio. Onde venci o medo de não escrever bem e de dizer adeus. Queria mostrar-te que consigo safar-me sozinho, sem a tua vigia. Que consegui o que eu queria. E que consigo sentir-me realizado assim, porque a vida é uma festa.
Eu só queria que visses, que ficasses feliz por mim. E ao ver-te ali, sentado na relva cortada de um quintal solarengo qualquer, ver o teu sorriso feliz e sem mágoa do que fomos e do que aprendemos um do outro. E poder chegar a casa de calções de banho e toalha ao ombro e encontrar-te lá, de cerveja na mão sentado na relva a sorrir para mim, e poder pegar na tua cabeça e dar-te um beijo demorado na testa, sem constrangimentos, lembrando a mim próprio e até a ti que sem saber, eu também te protejo como tu me protegias.
Porque foste pai e irmão meu, eu vi e aprendi. Porque eu sou um homem visual e até dizem que eu sou curioso. Porque eu quero ver-te sorrir e, mais que isso, sentir que sorris.

10 junho 2013

Três pra trás

Vamos para trás-os-montes, amor. Vamos para o mato tentar descobrir onde o mundo começa. Vem procurar água fresca, recém-nascida, para sentires de novo que somos vivos. Mergulha! Isso, mergulha, e sê feliz comigo que eu não quero mais lembrar-me do maior erro que todos nós somos. Liga as luzes do carro quando se fizer noite, assim temos vigia. Vamos viajar, amor. Lembremos aos nossos olhos que o mundo não é só o que vemos. Fiquemos a secar deitados no manto de relva fresca, grande, selvagem que nunca foi cortada. Com bichos, os bichos e tudo. Fumemos erva pura e comamos saladas com massa. Já sei!! Vamos à pesca, amor! Vamos pescar baleias e dançar com elas nos seus jardins de algas que nós não conhecemos. Vamos ao mar.


06 junho 2013

Vrum

Vamos para a noite. Cavaleiro de mota, prostrado em frente a minha casa. O motor do cavalo branco ronca nos meus ouvidos e desperta os vizinhos que vêm da janela. E seguimo-nos pelas mãos largas, desenhadas, posicionadas no ponto do desejo.
Andemos, que hoje somos cavaleiros. Irêmos por esse casaco grosso que nos enchumaça os ombros, pelo já quase esquecido sapato de vela e por toda essa coisa bem composta. Enfrentemos o vento, simulando-se ar puro. Sejamos da estrada desconhecida e forcemos o motor até avistarmos mar. E se não quisermos voltar, que seja então profecia.

17 maio 2013

É como morrer na praia

Pula. Junta-te a mim nesse precipício onde o caminho é só um. Dá-me as mãos para eu sentir as tuas vertigens durante a queda. E ouve apenas com o coração para não ouvirmos os nossos crânios estalarem ao atingirem o chão. Crac. Engole esse meu veneno já tão entranhado onde me perdi. Nada comigo no nada que somos. E deixa-nos morrer juntos deitados na cama para que se cumpra a tragédia que isto é.

09 maio 2013

Sure, not sure, yes sir

Aprendo a jogar esse jogo de adivinhas tão caracterizante. Do quê, não sei, o termo caracterizante é algo que me parece credível para um texto, mas tranforma esse fim de infância onde antes de acordar com os olhos para o céu, os olhos descem para terra. E a vida é um poema, não sabes qual das 1000 maneiras irás interpretá-la e não saberás responder o que te pedem no exame nacional de português. Não saberás responder às perguntas que fazes a ti nem às que fazes aos outros. Não saberás interpretar este texto.
Resume-se a saber o caminho de casa. Só isso será preciso para tudo ficar bem, que eu saiba o caminho de tua casa. Por ora, brincas no quintal, livre dos adultos que tantas chapadas te deram. Das crianças que tantas vezes e tão generosamente te deram doces que, afinal, já não queriam porque tinham caído no chão. Quero aprender esse jogo que jogas nos campos alegres que me deste a conhecer, quero voltar contigo para casa e quero continuar a ser criança contigo. Olha que a vida não dura diamantes.
Está tudo bem, eu juro. Eu fico aqui sentado no alpendre vendo-te brincar. Mais tarde, voltarei para dentro para fazer o jantar, esperando que escolhas o teu caminho para casa.