20 março 2011
Dentro ou fora
As camadas são essênciais sociologicamente falando. É uma rotina que aprendemos desde cedo que consiste em pô-la em prática sempre que estamos do lado de fora da porta.
Parece-me aceitavel vestir camadas do outro lado da porta. Mas parece-me aceitavel o facto de chegar a casa, jantar, ler e dormir ainda com toda(s) a(s) personagem(s) em mim? Há quem tenha personagens permanentes, daquelas a tempo inteiro. E é tão mau ter pena da pessoa que veste uma personagem enganando-nos e enganando-se a todo o tempo. Mas é mais mau ainda eu não perceber que há pessoas e há personagens.
As pessoas vestem personagens. As personagens essencializam-se sendo personagens.
E seria tão mau se eu não compreendesse que uma pessoa pode ser realmente uma personagem, por simplesmente querer com todo o seu fervor sê-la. Por não se sentir bem como pessoa e preferir resumir-se à personagem pretendida.
É cobardia? Eu tomo-o como conforto, poder realmente ser o que queremos e largar a pessoa em nós que nos incomoda. Eu podia não compreender, podia dizer que tal pessoa é desorientada, inexperiente quanto à vida, indefinida, entre outras coisas.
Podia, se não compreendesse que não se trata de uma pessoa, mas sim de uma personagem.
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Criar personagens é adaptar-se ao mundo em vez de fazer algo por ele. E não creio que se ganhe conforto, ganha-se indiferença. Mas essa aparente indiferença serão apenas actuações em palcos que não existem, pequenos truques - ilusões.
ResponderEliminarsim realmente aprendi isso que na vida desempenhamos um papel...que se desdobra. e o nosso dia vivemos oscilando entre os vários papeis que temos conforme os contextos. quando é que temos tempo p sermos realmente nos?! ;)
ResponderEliminarAcho que não percebeste bem o sentido do texto, pagão. Há quem crie personagens; e há quem o seja por completo. Essas personagens não inventam qualquer 'alter-ego', elas progediram e chegaram até aí por um qualquer ciclo natural da vida. Ou apenas não chegaram, porque já nasceram personagens.
ResponderEliminarQuando te é algo instrínseco, que não consegues tirar, não existe qualquer criação, existe o "ser".
Mas não vejo como progressão, vejo antes como uma regressão, por reprimires quem és e quereres ser outro porque a sociedade ou qualquer outro elemento (os tais "ciclos de vida" que referiste) te influenciam a quereres ser outra pessoa.
ResponderEliminarDeixares de seres tu não é confortante. Pelo menos eu não vejo conforto em vestir-me de peles que não são as minhas. Apenas te adaptas com essas novas peles e ganhas indiferença a quem na realidade és.
Está claro que não falamos do mesmo.
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