19 fevereiro 2013

Bodyguard


Tu és um forte. Nem sopros, nem ondas, nem mar. Estando ao meu lado a ressonar na cama, tu estás atrás, à frente, do outro lado de mim. Ao meu redor. Sem saberes, porque estás a dormir, tu crias um mundo só nosso porque, na verdade, tu roubas-me do mundo em que todos os tubarões me rondam. 
Tu veneras-me. Eu sou o teu troféu, a força do mar, a estrela dos palcos, a cobiça das discotecas. O eixo do teu quotidiano, o ser a quem te submetes, o núcleo da tesão na tua cama. Eu tenho-te nas minhas mãos e tu és meu. Tanto eu como tu sabemos isso. No entanto, és tu que me proteges de mim. Do meu abismo.
Dormes de costas para mim e, mesmo assim, sei que o Mundo não vai acabar. Nem que eu nem tu iremos morrer agora, nem aqui. Porque és a vigília apurada em todos os ângulos e alerta a todos os sons, sensível às premeditações.
Somos uma matilha. Tu não és só o Baco que me põe as uvas na boca e me possui na cama, no chão, na mesa. Nós somos irmãos. Somos até ao fim e contigo eu sei que somos o Mundo e que o Universo não treme. E sempre irei ver o sorriso eterno de miúdo na tua cara quando chegar a casa com a roupa rasgada das mordidas dos tubarões.



3 comentários:

  1. Fantástica construção de imagens e de sentimentos. Nos teus textos a noção de posse é sempre muito forte.

    Recebeste o meu e-mail?
    Abraço.

    ResponderEliminar
  2. Foi um dos teus textos que mais gostei de ler.
    Abc

    ResponderEliminar