31 janeiro 2011
A liberdade está à janela
Mãe, depois de tanto tempo a pôr-me bonita, depois de tantas manhãs consecutivas a maquilhar-me e a arranjar o meu cabelo e unhas para ser tudo bonito, para todos adorarem a relação que tenho comigo mesma, para me adorarem como uma representação social.. Olhei-me hoje no espelho e decidi pegar nas tuas agulhas de coser. Peguei lenta e delicadamente em cada uma (eram centenas) e espetei-as na face. Acabei com todo o império simbólico ou físico que tinha demorado meses a construir. Mas foi bom, tornar o inevitável mais aconchegado a nós e conceber. Rompi os dogmas todos da minha cara, mãe. Hoje sou feia, como as miudinhas com quem antes gozava. Sou mais feia que elas. Mas sabe-me bem, mãe. Agora as meninas insatisfeitas e invejosas já têm razão para falar. Torturei-me tanto, mãe, tanto...
Olha, eu prometo que hoje vou à rua e vou mostrar a minha cara a todos, está bem, mãe? Eu adoro-me assim, feia, como sempre tentei evitar sentir-me. Faz-me amar-me mais.
Sinto a liberdade multiplicada por três e chega-me tanto.
Sou um monstro...
E quero mais!
30 janeiro 2011
29 janeiro 2011
Graceness
28 janeiro 2011
Bocas abertas
Amo-te desde criança.
Amo-te desde o primeiro pulo que dei: o pulo foi para chegar a ti. Amava-te nas brincadeiras, no toca-e-fica, no macaquinho-do-chinês e até quando ficávamos de castigo no quarto escuro. Quando comiamos donuts, eu amava-te. E amo-te hoje que comemos Cheeseburgers. Sempre o senti quando desenhava e o meu corpo sempre quis amar-te. Toda o processo de acne na minha cara representa a vida que me dás: o organismo acelera e isto entope-me a pele. Já viste?
As coisas que passamos quando dormimos, à noite, com a manta do avô sobre nós? Sonhamos juntos; sonhamos tanto e tantas vezes. Até te amo no quentinho do banho: mas só quando está quentinho. Também o sinto em noites quentes, de Verão, noites que se fazem sentir brancas apesar do céu escuro.
Até o sinto quando rimos juntos, mas amo-te mais quando choramos. É mais bonito.
E até quando bato à tua porta, mesmo quando tu não estás.
26 janeiro 2011
Cumprimenta o Verão por mim.
É tão bom abrires os olhos e acordares para um dia que te pareçe eterno. Na tua casa vazia, o ar sauda-te com um cheiro quente e fresco e doce e tão familiar quanto a tua estrutura facial. Satisfeito da cama cheia de areia, levantas-te com os teus cabelos loiros encaracolados e lambes os lábios que te sabem a sal. A sede relembra-te da frescura do Verão e, à janela, vês que tens medo do céu que parece imenso.
Lá ao fundo as ondas dançam e os surfistas são engulidos constantemente. Mas têm sempre volta para mais. Os girasóis estão virados para ti e apetece-te praia. Com criançinhas a jogar à bola ou com gaivotas que assistem o espectáculo do surf.
Pega num coco, abre-o delicadamente e bebe. Desfruta a água mais doce do mundo e aproveita para passar a ressaca de ontem à noite com as melhores companhias de sempre. Se não tiraste os calções de praia que vestiste ontem, não faz mal: o Verão é assim. Tudo legalizado numa mescla de preguiças. Pega nos phones, põe a toalha aos ombros e manda um beijo meu ao mar.
O Verão é teu.
24 janeiro 2011
Olhos pecadores
Frustras-me com a tua indiferença quando te aproximas de mim. As hormonas animam-se com o teu semblante negro, dando cor às coxas inchadas. A postura recta mostra um espírito sério e os teus peitos duros derrotam qualquer um.
Uns lábios carnudos, de mãos abrangentes e umas costas curvilíneas olham-me em desafio, desdenhando-me ao saberem que não sou digno de desfrutá-las.
Como é que consegues? Não querer que te consuma, numa apoteose só nossa de confiança e na descoberta de um prazer que ambos nunca vivenciámos juntos.
Não consigo desejar-te mais se não me quiseres como teu também.
19 janeiro 2011
Tendências
Tens-me todo? Só de vez em quando, quando me fundo a ti. Mas só sinto que somos o mesmo corpo quando a temperatura do teu corpo é completamente igual à minha e o toque da tua pele me é tão familiar quanto a minha própria pele.
Se quero mais? Quero tudo, pressionar-te mais contra mim e sentir-te o hálito fresco enquanto fazemos amor.
Somos nossos sempre que transpiramos durante horas na cama sem dar por isso.
Somos nossos quando entramos em sintonia até chegarmos à explosão do cosmos e conhecer-mos Deus.
18 janeiro 2011
Supremacia
16 janeiro 2011
Nunca.
15 janeiro 2011
Boa noite
O sono anestesia-me enquanto acendo o candeeiro para escrever-te. A lâmpada desanima-se em desmaios e recompõe-se rapidamente e o carvão do lápis é já pequeno e gasto dos retratos que te fiz.
Enrolo-me numa gruta de cobertores de veludo e flanela, peço perdão pela ganância e choro baixinho. Sinto-me ridículo por mostrar a parte fraca e tu, a meu lado, sorris como se estivesses à espera deste choro íntimo desde sempre. Aninho-me mais a ti, enrolo-me em concha, minhas mãos cheiro-a-chá-verde cobrem-me a face e choro. Choro mais, mais, mais e mais mas baixinho.
Porque as lágrimas são um peso que não pedimos e que sustentam injúrias ínfames.
É sempre óptimo saber que estás cá.
Subscrever:
Mensagens (Atom)