04 agosto 2010

Cartas ao coração


As folhas caíam e nunca mais voltavam, no movimento-fotocópia dos teus olhos sobre a madeira tratada;
enquanto tu me contavas as histórias de acordar, as histórias da verdade.
E quando as pestanas teimavam em ajoelhar-se no meu rosto tu paravas a história enfadada e seguravas-nos com medo que o nosso barco de lençóis e almofadas naufragasse na cave do andar mais alto das lojas da moda.
Sopravas-me sempre os clichês ao ouvido enquanto a minha boca aninhava as amêndoas à língua. As amêndoas que me trazias das viagens que eu nunca sabia. Eu nunca te dizia obrigado.
Depois as aves subiram ao céu e os peixes afogaram-se na água que o ar não tem. Eu nunca chorei, mas sentia falta deles.
Sentia falta deles como na verdade nunca senti daquele teu dormir fraguementado com o sangue a querer sair de ti.
Pois agora acenam-me imagens dos vários momentos que passámos que eu não me lembro.
Não me lembro se cheguei a comer as amêndoas. Mas obrigado.

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