21 setembro 2012

Nota grave


Vamos ter de nos sentar e jogar um jogo com cartas, dados, perguntas e consequências engraçadas. Iremos finalizar o jogo com um mau perdedor e um vencedor modesto. Vamos ter que ficar a dormir na casa do anfitrião porque jogámos até tarde. E ele vai ter de ter alguma Gazela no frigorífico para eu poder esquecer-me de que afinal, tu estás ali porque se não estivesses, poderias querer levar-me para a cama. 
Vamos ter de aprender a contar pelos dedos de uma mão quantos ficam, na verdade. Teremos de fechar os olhos, por vezes, para tentarmos não perceber que afinal, os teus amigos são teus amigos porque, se não fossem teus amigos, levariam-te para a cama. Eu não sei se eles seriam teus amigos se não fosses fixe. Imaginas o que é teres amigos fixes sem teres facebook? Eles talvez não imaginem. Eles talvez não imaginem  tu seres feio, não seres engraçado e não teres um riso que se destaque. Se o fizessem, talvez não fossem teus amigos. Talvez eles até criem expectativas sobre mim e sobre ti, talvez seja por essa razão que aprendemos a segurar num copo alto de cuba livre. Talvez seja daí que tenhamos aprendido a ter a mesma postura.


Um dia teremos de voltar a ser pobres. Teremos de passar fome e calor, que é bem pior que o frio, e tenhamos de juntar-nos em rodinha para chorarmos todos juntos, como um culto. Talvez precisemos de algum velho que nos fale da sua história de vida, sentado numa cadeira em frente de um bando de jovens sentados à chinês. Talvez seja preciso isso tudo. Porque muito raramente escrevo textos tristes - tu sabes que Asmodeu odeia tristeza - e hoje eu faço-o porque, sinceramente, falta-me o sentido de muita coisa. Não que eu o sinta e que me afecte grandemente a falta desse sentido ao qual chamamos de valores. Mas eu vejo. E ainda voto na visão como passe para a apoteose. 
Porque no fim, a vida é esse sumário comandado pelo desejo. A gula, a ganância, a âmbição, a cobiça, a luxúria. Hoje já mando vir com o Pai por ter criado tanta palavra para um pecado só. Talvez ele mesmo tenha quase sido comido pelos demónios. Talvez os anjos lhe tenham cobiçado. Talvez Deus seja tão sozinho por desgosto de ter sido só um amigo. Vamos, quero que venhas comigo falar com eles os dois para sabermos o que é que se passa aqui.

20 setembro 2012

Lovely Beasts


Vivi a minha infância a crescer enquanto balançava de dente para dente, com os gigantes. Foi por estar sempre pendurado que os meus braços cresceram. Foi por ter crescido com os maiores que ainda hoje me chamam pequeno. Senti o chão quente da selva e bebi a água lamacenta em que nós brincávamos. Não faz só bem à pele deles. Já partimos dentes juntos e já dormi no colo deles porque eles queriam dormir no meu mas não cabiam. Competíamos para ver quem gritava mais alto. Aí, tornávamo-nos os reis da selva. Sentiamo-nos os reis do Mundo. E as mães olhavam para nós, indignadas e com calor, duvidando da minha influência sobre eles. Eles é que tiveram influência sobre mim. Éramos pequenos. Quando nos conhecemos, eu só de cuecas, criança pançuda com um gelado de água na mão, eu ainda era maior que eles. Lembro-me bem de uma certa altura em que éramos todos da mesma altura. Hoje, são todos maiores que eu. Talvez sejam até maiores que o amor que eu sinto por eles.
Repara-lhes na cara. Na maneira lenta e cansada de andar. São infinitos. Não só pelo tamanho, pela paciência que se lhes reflecte na cara, mostrando que têm a idade da Terra. São do tempo do Mundo. São monstros sensíveis, toneladas que distinguem as pedras em que pisam dos grãos de palma perdidos pelos comerciantes que têm medo de mim por não ter medo deles. Se calhar, somos mesmo o gang que pensávamos ser quando éramos crianças. Dormimos juntos, eu no colo deles, o mais novo zanga-se porque não entende que não consigo aguentar a tromba dele no meu colo. Tornei-me dentista-dos-lençóis, ao brincar-lhes com os dentes todas as noites. Tornei-me viajante ao ler-lhes o mapa rugoso que lhes ocupa toda a pele. Tornei-me no menino em que eles jorram água da tromba quando querem que tome banho.

19 setembro 2012

Se o Arrakis tivesse uma piscina, seria assim.


Desculpa, mas tive de arranjar uma em que coubessem pelo menos um quarto dos beach boys que pões no teu blog. Sem eles, não seria a mesma coisa. ;)

16 setembro 2012

Tango for two

Ontem ouvi-te dançar.
A tua expressão corporal disse-me para avançar e cair sobre o teu suor. Mas não foi bem assim: primeiro levantaste a cortina transparente para o show ser ao vivo. Depois, o que diferencia tudo é que fui eu que pedi. Fui eu que te pedi os sorrisos, os abraços à minha volta, até mesmo a tua maneira de me olhares. A t-shirt branca, molhada e misteriosa. Inquietante.
Não digas que eu te falo em poesia porque poesia não foi feita para ti. Foi feita a dança, um tango gingado que nos enche a sala mesmo quando não estamos em casa. Que nos enche o rio, se por lá fizermos amor.

11 setembro 2012

Teen Age Since Ever

Não vais desperdiçar assim o ouro da tua vida. Afinal, tu és o meu irmãozinho adolescente. Tu tens o dia todo para explorares o mundo, quando abrires as tuas pálpebras viradas para a varanda do quarto, ao acordares. Talvez eu tire o dia de folga e fique a manhã toda a mostrar-te todos os desenhos animados, os livros e as músicas que há para ver. Almocemos em várias praias hoje e conheçamos todas as estradas do país.
 Porque a vida é a única coisa a ser a única coisa que tu realmente possuis. É só isso que tens para ti. Isso tudo. E tu vais ter de ser tudo. Vais ter tudo para viver e compreender, para que, numa próxima manhã, quando deixares de ser vida, comeces a ser mundo.
 Se tu quiseres ser um panda, então Fuck the world, you're a panda. Que a tua vida tenha música de fundo de uma banda sonora bem rica como a dos filmes e ainda vivas os melhores momentos da tua vida no timming perfeito: algumas em fast e outras em slow motion. Aprende o máximo antes de chorares e canta todas as músicas antigas que derem na rádio: isso vai fazer-te a estrela nas festas. Sorri para o céu, que os deuses aguardam-te.