30 abril 2011

Hologramas de granadas


Somos irmãos de guerra, porque no mundo há sempre alguém a chorar.
É a morte que conta os segundos e os abutres são os olhos do Diabo que nos vigiam com as costas queimadas por Apollo. Somos irmãos de guerra porque o whisky indica-nos o mesmo caminho, apesar de não nos conhecermos, e porque os orgasmos descobriram-se no colectivo.
Soul sisters porque choramos sozinhos acompanhados por alguém do outro lado do mundo, irmãos de guerra porque a confiança compete entre todos.

25 abril 2011

É Física



Não sabes que quando uma porta se fecha do nada é preciso corrente de ar? Quando se fecha uma, está outra aberta.

23 abril 2011

Pas plus simple que ça


O auge são as tuas tripas à moda do Porto servidas em cuspe de cabidela nos pratos-omoplata. Ensinêmos ao Homem o que é ser sustentável.

22 abril 2011

Bingo


A minha santa mãe morreu.
Ia à igreja, falava com deus, punha-se em 5º lugar perante os outros, dava esmolas aos pobres e sabia perdoar.

Devia ter sabido que o jogo da vida só passa para amanhã os que souberam jogar o jogo de hoje.

21 abril 2011

A mãe tem sempre razão


É sempre que me perco naquela mesma estrada que me encontro com o mundo.
O pai chama-lhe alucinação.
Mas ele está errado, porque é o único mundo que eu quero para mim e a mãe disse que deste mundo já nada resta.

18 abril 2011

Vomita-se luz pelas janelas


Vinha ele cansado, de capa elegante e guarda-chuva na mão com o luxo de fumar um cigarro.
- É segunda e chove. Este tempo entristece-me a alma.
É. E nossas almas ainda mais entristecem o tempo, que ruge baixinho numa segunda-feira, pois não tem confiança para rugir à primeira, poque nossas aspirações alucinantes intimidam-no. Ruge baixinho, coitado. Não nos grita pranto, hoje não tem forças para isso.


Mas chora, chora e imagino-lhe o desespero de não encontrar ombro que seja do seu tamanho.


16 abril 2011

Deixa a ressaca para a morte


O problema, meu irmão, é que a celebração da vida nada tem a ver com sobriedade. Festas não se fazem sem desbundar, comemorações não são o mesmo sem alívio. Não podes querer organizar a tua vida quando a mesma é uma festa onde os convidados e, principalmente tu, o rei da festa, não têm hora de chegada e partida definida. Onde o bar é aberto como a mente e o coração bate ritmos electrónicos diferentes a cada 6 minutos. Onde a epilepsia se esquece com as luzes etermitentes e há uma cama disponível para alguém descartável ou uma sanita vomitada que te dá o ombro para chorares e dormires.
Diz-se que uma casa organizada reflecte uma espírito organizado, portanto não esperes que a tua casa seja digna de revistas de decoração de interiores; vai estar com vistígios de todo o tipo de prazer, e não vai ser aprazível aos demais. Mas vai, com certeza, soprar o pecado da inveja deles... não que isso seja importante. Só uma observação, tu pediste-me para falar do que me apetecesse enquanto estivesse deitado na rede a olhar para os pirilampos do céu. E nem sei se tens espírito, dizem que o prazer consome. Dizem.
Nunca deixes ninguém dizer-te que o prazer é efémero. O prazer é elementarmente igual a tudo o que eles consideram standardizadamente correcto: dura o tempo que quiseres. A festa da vida tem um fim, mas só acaba quando tu bem entenderes.
É por isso que há duas curas para a ressaca do dia seguinte: ou tomas banho, dormes e deixas de beber; ou gastas o perfume e madrugas, para sempre entregue ao prazer.

13 abril 2011

Sabor a sal


Vinhas de vespa côr-de-menta, entre árvores em vénias num Verão infinito de azul continuado pelo céu. Eram óculos de cristal, o que usavas para contrastar com a toalha azul-petróleo? Foram buracos que fizeste para descobrires a areia fresca aguada e entrares dentro da Terra.
Acreditaste, até as mãos fazerem sangue de tanto cavares, que ias ao Centro do Mundo. Ias descobrir a eterna juventude e deixar o egoísmo tomar-te para que essa água benta te permitisse ver a evolução do planeta em paz, numa solidão acompanhada pelo desejo. Esse desejo sempre foi um prazer onde o orgasmo é inatingível, eu sei.
Deixaste o buraco aberto para que lá bem do fundo, no centro do mundo, pudesses, ao olhar-me de baixo, ver se eu era do tamanho dos deuses. Ainda não recebi resposta, mas mandei Hermes tomar conta do teu recado.

10 abril 2011

Ordem sobre Caos


Tu ensinaste-me que a vida são cordas soltas.
Eu peço-te que as saibas tocar de acordo com a matemática.


Ajuda-me a construir o meu império,
que eu governo-te como bem entenderes.

05 abril 2011

Sabe Luci


Será que lutas para não te desviares de ti, essência? Ou será que lutas para te tornarees num "tu" desejado?
Com esta pergunta vem outra bastande cuirosa: Tu és o "tu" sem esforço, numa paz onde reina a preguiça e na tua essência baseada no lazer - pois é aquilo que te dá prazer e realização, aquilo com que te identificas -, ou és quem tu queres ser, as qualidades que lutas por ter, e tens, por mais que falhes por vezes? Essas falhas podem mostrar-te que afinal não és, que afinal não consegues sempre.
Tentas pôr tudo em dia: a agenda, as dietas, os projectos, as prendas, as relações, o trabalho, os valores e tudo e tudo. Isso para poderes sentir-te minimamente completa e competente contigo própria, essência.
Mas será que tu o fazes porque és completa ou porque o queres ser? É para não fugires de ti ou para te encontrares como nunca antes?

04 abril 2011

Closum, Nostrum, Liberum



Ondulávamo-vos os cabelos, como nos filmes de Hollywood, em slow motion. Suspiravamo-vos ao ouvido a calma que nos reinava e deixavamo-vos descobrir os sons dos seres que nos habitavam. Eras como um bebé, quando te embalavamos com a ajuda do vento.Zangavamo-nos convosco pela vossa falta de respeito, mas... eramos bons amigos.
Porque era bom termo-vos a saudar-nos com sorrisos deslizantes à chegada da terra, onde embalavamo-vos de volta a casa e por fim batiamos à porta com uma voz aguda.
E vinha a festa cheia de espuma, convosco sentados na areia,
lambendo o sal dos lábios.

02 abril 2011

Rotações


Sinto-me tonto, como uma caneta. Onde me apertam a cabeça firmemente e, a cada duas palavras, avançam com o pulso um pouco mais para a frente e, - isto é o pior -, rodam um pouco a canetinha como se a ajeitassem às suas mãos. A cada duas palavras vejo diferentes lados do mundo. E não é porque eu quero. É porque me mandam.
Talvez a caneta seja de recarga e o papel acabe em branco.
A tinta agradecia.