14 setembro 2010

Sem título


Eu escrevia-te sempre cartinhas, daquelas amarelas com bolinhas e enfeites bonitos a meus olhos. E dobrava as cartas, numa tentativa desorganizada de origami, pensando que tu gostasses.
Depois punha-me a puxar todas as cerejas que queria colocar em cima do bolo, para teres um título bonito, que te fizesse gostar mais das cartas. E de mim. De nós.
Vá, eu não sabia se apreciavas a minha dedicação, mas tu respondias-me quase sempre.
E nessas cartas, que até tenho aqui guardadas comigo, tu sempre te esqueceste de colocar um título.
Foram anos a desdobrar papéis ao ler a tua tinta preta de caneta de feltro. Éramos crianças e tinhamos a idade da Terra.
Tu hoje olhaste-me os nós dos dedos e disseste-me que não queres saber do que te vou falar, que só queres ler a minha escrita entrelaçada na confusão.
Nunca te interessaram os títulos, realmente.

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