06 janeiro 2012

Take 1


O vento tornou-se ar condicionado barato e avariado, a areia fez comichão aos pés e tudo o que era comida encontrada ali sabia a ontem. As árvores já estavam decoradas e esperávamos por prédios que já não víamos há décadas. Os pássaros já nem sabiam cantar. Cantavam sempre a mesma música, no mesmo céu, com as mesmas asas e à mesma distância. O sol fazia sempre o mesmo caminho, já nem sei qual é o recado que ele se esquece todos os dias de entregar. O mar morde a areia umas milhentas vezes, como um cão esquizofrénico que anda o dia todo a tentar morder a cauda. A paisagem era sempre o horizonte, que nos enchia de suspiros marotos e sonos monótonos.
 Deviamos até ter sido seres migratórios, de paraísos para infernos, sempre que conviesse. Porque os filmes pintam uma maravilha de tela caribiana, mas é porque não duram mais que três horas. Era um saco viver para sempre naquele marmelanco, nos sorrisos sempre inocentes, na coragem sempre brava, na tesão sempre ardente. Eu cansava. Às vezes durante os filmes gosto de ir ao wc para dar uma boa mijada. E sabe-me bem esse intervalo. Filme sem intervalo é sentença.

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