Tem passos bem silenciosos, a alma que habita a casa do andar 3º esquerdo. Sente-se o perfume antigo, forte, de homem do tipo que fumava cigarrilha e usava fato só para se achar. Ninguém lhe ouve os gritos, só algum espirro ou outro quando fica demasiado tempo no banho. Adora tomar banho. Ainda hoje senti o cheiro forte a champô no hall de entrada. Isto depois de ter sentido o cheiro a óleo dos rissóis que comeu hoje ao almoço. Fiquei a pensar se veio tomar banho para o hall de entrada. Na duas casas de banho aqui de casa, eu juro que não cheira a nada.
Gosta de andar nu pela casa. Às vezes. Ou então sou eu que o imagino nu, a pavonear-se a mim. Olha-se ao espelho demasiadas vezes. Ninguém diria que não está vivo. É o morto mais vivo que eu conheço. Ele embebeda-se comigo no bairro alto. Ele bebe mais que eu.
Sinto aconchegar-se a mim em concha, quando vou para a cama.