27 abril 2013

Milícia

Manda vir essa vingança. Esse nojo que tens de mim quando tens paciência para me olhares uma vez mais. Grita-me essa raiva tão criada e aniquilada pelo que o meu espelho reflecte. Constrói esse exército e poe-nos em marcha, todos os soldados que tiveres para que me derrubem os pés dançados. Eu sou criança: ainda brinco no chão e ainda tenho vários sonhos acordado. Tu, tu és Deus, Senhor de Ti, Força de espírito, Navegador de todos os teus mares que bem conheces. 
É tragédia - sem audiência - esse tempo tão distinto, marcado por gerações que pensávamos compreender. No tempo ninguém manda. As paredes do quarto piscam, pálidas, com a televisão que passa os filmes rebobinados para trás. Tenta-se. Espero.

Domus


É essa porçao de terra que se pinta nas paredes do nosso quarto. Os vales com que sonhamos ao olhar para o teto. As esfinges de algo que não conhecemos. E  a certeza, a certeza de qualquer coisa que não sabemos. Oh!, má fortuna que o tempo não nos tenha o mesmo passo. Quem nos dera saber o quê naquela altura. 
Faltam as conchas e o abraço, sentados à beira-rio, olhando o que é nosso. É essa certeza que se sabe hoje, de que juntos, tudo é nosso. Que o que pisamos, o que respiramos e ouvimos das gaivotas, foi designado a ser nosso. Precisamente por sentirmos que não vai anoitecer. E mesmo que anoiteça, festejaremos a noite inteira em lençóis brancos de paredes desconhecidas.
É a verdade. O tempo, que pára sem darmos por isso. As memórias que se tornam escrituras. Esse respirar aconchegante de não se saber o que vem depois, sabendo que o depois está lá, à nossa espera. E que é nosso.

19 abril 2013

Amor Vincit Omnia


Estamos de luto. Vestimos as vestes pretas e fitamos as gotas em quantidades infinitas que atingem a erva molhada. O tempo é cinzento, e seria cinzento mesmo que hoje no mundo não houvesse cor. Sorrimos um nada imaginário onde as palavras, ao longo do texto, ao longo do último discurso, deixam perder o sentido e perdem-se no rumo e na vinda. Procuramos por alguém para possuir, a fim de encontrarmos vida.
É impossível fitar o morto. É impossível olhar para dentro. Perdemos a certeza de termos estômago, ganhamo-la quando a sentimos ser comida pela bílis. Quando conseguimos sentir. Hoje começa a festa da velha guarda. Onde os jardins serão regados a bons olhos, literalmente. Onde nos afogaremos dentro das nossas camas, tão vazias e tão imensas. O dilúvio irá destruir os sonhos que, nos últimos dias, nos temos lembrado de sonhar depois de acordar.
Hoje o ciclo comprova a sua veracidade. Perdemos de vista o futuro, não existem mais maquetes para projetar em cima das secretárias nem mapas nas paredes, furados por pioneses, por trilhar. Levantem as bandeiras. O tempo do dia de hoje não será regido pelas horas nem pelos sóis, nem pelas marés guiadas pela Lua. Hoje o negro instala-se.