22 julho 2013

O Grande


Senta-te ao meu colo, ó Deus, e chora. Deixa-me pôr minhas mãos em tua nuca de menino e cantar-te uma canção de embalar. Esta noite eu vou ouvir-te chorar até adormeceres, para poder levar-te ao colo para a cama. Vais ver, acordarás de manhã sem saber como foste lá parar. Faz-me ouvir-te, campeão, a ti e às tuas histórias quando corrias no quintal porque ainda eras livre. Ensina-me que sorrias como te imagino a sorrir. Pois hoje choras por ser difícil ser Deus. 
Diabos são eles, teus filhos. Diabos são os que te pedem e choram a teu colo, mas que não vêem que esse tornou-se uma cascata que hoje, finalmente, jorra a água em abundância para o meu colo que te abriga. Foste um coleccionador. Que já não tem espaço para colocar tanto artefacto. És o santo a quem ninguém imagina esperar ouvir-te chorar a seu colo. Porque para eles és O Grande, que com tão elegante discurso e filosofia nunca saberá o que é sofrer.
E tu sofres, junto de mim que também julgava não teres parte fraca. De mim, que nunca vi o império da sabedoria desabar em pranto. De quem te segura hoje ao colo, que hoje descobre que a coragem é sustentada pelo medo.


3 comentários:

  1. extraordinário ... "De quem te segura hoje ao colo, que hoje descobre que a coragem é sustentada pelo medo." - lindo

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  2. quero ler a tua veia não metafórica.

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