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Dobrávamos os músculos, ríamos com pinturas, saltávamos do céu
E caíamos na rede dos peixes, fazendo parte de figuras.
In-animadas. A animação vinha-nos de dentro
e os senhores das pipocas viam nos olhos cegos dos clientes o trabalho por fora.
Éramos os nómadas do destino.
Assistíamos às pobres selvas enjauladas dos tigres e dos leões que pouco comiam e pastávamos o mesmo cheiro a feno fora das roulotes com televisão a pilhas. E eramos mais altos que os elefantes.
Gravámos t-shirts com as canetas de feltro baratinhas e tirámos fotos com as caras que não eram nossas.
Fomos famosos por horas, entrámos em sonhos de crianças quando não saltávamos de caixinhas-surpresa com a molinha ao fundo das costas.
Trabalhávamos de noite; dobrávamos os músculos.
Só dormiamos quando o mundo se esquecia de nós.
Nunca ninguém se esqueçeu de nós.
A nossa tenda era redonda como o mundo, sem um começo nem fim nem destino concreto.
E nunca foi preciso ir a um circo para lá estarmos.