24 dezembro 2010
Carácteres ferrenhos
Eu sou meio esquesito.
Perante as situações más e confusas, enfrento-as discretamente: não grito, não me esperneio nem luto. Recolho-me na minha concha e o mundo que se resolva.
Há-de ele resolver-se?
Não sei, não me interessa. Uma posição completamente passiva quanto a confrontações.
Abana-se a cabeça, concorda-se com o errado, rendemo-nos a tudo. E a nós próprios.
Deixai fluir a natureza.
E sofre-se, pune-se assim por toda a vida por nem sequer se ter suspirado em protesto. Pois, para quê garantir a minha única felicidade se posso gerar a felicidade de muitos outros simultâneamente? É melhor assim, é melhor assim.
Há que querer o bem dos outros. Sabe-lhes bem.
Injustiças acumulam-se cá dentro, sem defesas por minha parte, homem submisso quanto à razão alheia. Sacrifícios são apenas um contacto com o nosso interior.
São?
Depois explode-se.
Explode-se o mundo num grito, parte-se a casa com um só toque e as veias do pescoço ficam da largura do céu. Jorra-se fluídos vermelhos na cara das pessoas; eu com a raiva, elas com a revolta do sangue na cara. Feitiços mentais, voodoos e macumbas.
Enfiar três dedos na traqueia, arrancar corações, trincá-los e fazê-los de pastilha elástica. Com os donos vivos, assistindo o espetáculo da vida deles.
Recompensar o que nos foi dado.
Pois quando se recebe é preciso dar, não é verdade?
Agora, ainda lhes sabe bem?
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Caro Herético,
ResponderEliminartenho de fazer algumas lamentações ao teu texto. "Recolho-me na minha concha e o mundo que se resolva.
Há-de ele resolver-se?
Não sei, não me interessa. Uma posição completamente passiva quanto a confrontações." - isso é uma atitude muito egoísta da tua parte.
"E sofre-se, pune-se assim por toda a vida por nem sequer se ter suspirado em protesto. Pois, para quê garantir a minha única felicidade se posso gerar a felicidade de muitos outros simultâneamente? É melhor assim, é melhor assim.
Há que querer o bem dos outros. Sabe-lhes bem." - isso também é outra atitude muito egoísta da tua parte se, e só se, os outros também garantirem a tua felicidade, que devem garantir já que precisamos sempre de amigos e pessoas que nos amem e que cuidem de nós. Logo tanto lhes sabe bem a eles como te sabe bem a ti.
“Recompensar o que nos foi dado.
Pois quando se recebe é preciso dar, não é verdade?” – sim e não, depende. Normalmente quando damos também gostamos de receber mas não damos só para receber, damos porque queremos. Mas, é claro que depois de se plantar tantas sementes há que receber os frutos não é verdade? Senão, não é boa terra.
Eu já sigo o teu blog a algum tempo mas desta vez senti-me obrigada a intervir. Se estiver errada diz-me.
Comprimentos e continua a escrever como escreves.
Gosto de críticas como esta, Anónimo.
ResponderEliminarAgrada-me o facto de teres abordado o egoísmo: tenho de te confessar que o egoísmo é um dos 'pecados' pelos quais sou mais aliciado. Admiro essa vertente, apesar de ter concreta noção das consequências más da mesma, mas é, sem dúvida, algo que tenho vindo a explorar já há um ano. Estou inclusive a escrever uma tese sobre a razão do egoísmo, isto é, tentanto encontrar um porquê e uma lógica que se justifique, de maneira a este sentimento não ser encarado de uma maneira tão crítica.
Esta censura ao egoísmo, na minha ignorante opinião, é mal compreendida por não termos ainda percebido bem o porquê; talvez essa razão não tenha ainda sido expressamente exposta ao ponto de nos oferecer total compreensão.
Falo, claro, do egoísmo universal. O egoísmo individual de cada personalidade já enfrenta a psicologia.
É de salientar também que a heresia tão destacada em alguns dos meus posts reflecte-se também nisso: num romper de atitudes morais ou éticas, visto que a própria sociedade ainda hoje controla e nos define o que é, ou não, ético e moral.
O que quero dizer com isto é: será o egoísmo um sentimento verdadeiramente mau? Devemos cessar dele e desprezá-lo?
É exactamente isso que tento perceber e expôr na tese que tenho vindo a construir. Um dia publicarei a tese aqui (:
Contudo, neste post a minha intenção dirigia-se mais pormenorizadamente à submissão, à cessação do orgulho para dar razão ao(s) outro(s), neste caso em confrontações. Mais com a intenção de deixar o orgulho (dando razão ao outro, mesmo não concordando com ele), resistindo ao egoísmo de ter a razão toda para si próprio.
Mas talvez me tenha expressado mal, e mea culpa por isso.
Agradeço verdadeiramente a crítica,
Cumprimentos
Digiro-me novamente a ti, Herético.
ResponderEliminarCompreendo o que queres dizer. Mas também ter razão ou não as vezes é muito subjectivo. Por vezes ambos os lados podem ter razão e ambos devem deixar o orgulho de parte. Acima de tudo há que enfrentar e ver ambos os lados e não nos prendermos só no nosso lado. Daí vem o egoísmo, não querermos compreender o outro lado e ver apenas o nosso.
*Dirijo-me
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