16 abril 2011

Deixa a ressaca para a morte


O problema, meu irmão, é que a celebração da vida nada tem a ver com sobriedade. Festas não se fazem sem desbundar, comemorações não são o mesmo sem alívio. Não podes querer organizar a tua vida quando a mesma é uma festa onde os convidados e, principalmente tu, o rei da festa, não têm hora de chegada e partida definida. Onde o bar é aberto como a mente e o coração bate ritmos electrónicos diferentes a cada 6 minutos. Onde a epilepsia se esquece com as luzes etermitentes e há uma cama disponível para alguém descartável ou uma sanita vomitada que te dá o ombro para chorares e dormires.
Diz-se que uma casa organizada reflecte uma espírito organizado, portanto não esperes que a tua casa seja digna de revistas de decoração de interiores; vai estar com vistígios de todo o tipo de prazer, e não vai ser aprazível aos demais. Mas vai, com certeza, soprar o pecado da inveja deles... não que isso seja importante. Só uma observação, tu pediste-me para falar do que me apetecesse enquanto estivesse deitado na rede a olhar para os pirilampos do céu. E nem sei se tens espírito, dizem que o prazer consome. Dizem.
Nunca deixes ninguém dizer-te que o prazer é efémero. O prazer é elementarmente igual a tudo o que eles consideram standardizadamente correcto: dura o tempo que quiseres. A festa da vida tem um fim, mas só acaba quando tu bem entenderes.
É por isso que há duas curas para a ressaca do dia seguinte: ou tomas banho, dormes e deixas de beber; ou gastas o perfume e madrugas, para sempre entregue ao prazer.

4 comentários: