21 outubro 2011

Eternal Seconds


As gargalhadas do Tio Alfredo começavam sempre com um copinho ou dois de ginja e licores caseiros. Mas éramos sempre nós que riamos, as gargalhadas eram dele porque mais ninguém nos fazia rir assim. Éramos uns trinta irmãos, mais uns sete primos e dois ou três bastardos. Mas ríamos todos. Rodrigo fazia de tudo para poder rir mais, então quando os maxilares já lhe doíam num pedido de socorro de tanto rirem, ele bebia mais um pouco para anestesiar a vida naquelas bochechas rosadas de menino académico. Ele e todos nós, porque éramos irmãos. Nascemos com a mesma mão na barriga e com a testa a fazer rugas, com a falta de ar e as lágrimas caídas porque as gargalhadas sozinhas já não chegavam.
Só quando éramos anestesiados é que chegávamos à fase seguinte: o Tio Alfredo via lutas de rebuçados do Doutor Bayard a saltarem pelas janelas fora, nós andávamos à chapada a ver quem dava mais, as penas das almofadas é que se riam agora - finalmente livres outra vez, a voar pelo quarto - e as bebidas fugiam das garrafas, suicidando-se no estômago dos humoristas da estaminé.
E os problemas avizinhavam-se lá fora, nas casas à frente do Tio Alfredo, rumorando que morríamos lá dentro da casa dele. E morríamos. Contentes, por sinal.

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