A minha profissão é tornar inocência em pecado. É ranger os dentes enquanto se sorri para a foto, calçar o teu olho embalado na sola do sapato. Convencer-te de que não vais ser feliz sem mim. E orientar e oferecer-te tudo, num acto de bondade e solidariedade disfarçantes do esquema precioso de manipulação e controlo. Fazer-te babar por algo que nunca vais ter. Fazer com que te mates por isso.
A minha profissão é ser o pai que nunca te bateu porque nem isso vales: para descarregar a energia da fúria. Adorar-te como um deus e louvar o teu nome aos pobres, sabendo que são só os ricos que ouvem. Fazer com que sonhes comigo e te masturbes a pensar em mim no teu quarto de adolescente, e chorar em frente de ti ao dizer-te que não te mereço porque não sou nada. Oferecer-te um presente que seja ainda melhor do que aquilo que querias, feito por mim, que mandei o meu sobrinho fazer porque na verdade não tinha tempo. O meu tempo traduz-se em vontade e paciência.
A minha missão é ser o mau da fita, abusar do teu sexo e depois cuspir-te na cara quando começares a pedir para casar comigo. Eu já casei com os deuses, todos juntos numa orgia de sete dias. Já não posso ser teu marido, pai, amigo. Posso até ser o teu prostituto, encostar o teu rabo ao lavatório molhado e consumir-te ali, mesmo ao lado da carne a grelhar no fogão. A minha missão é ser um deus teu, que à tua frente nunca pediu para o ser.