12 abril 2012

Colectânea Sagrada

Eu não posso desprezar os que sobrevalorizaram aquela obra que eu escrevi. Poderia ser da Bertrand, da Porto Editora ou outra merda qualquer. Sempre fui bom em Marketing e ainda era, ou sentia-me, um puto universitário e sempre fui muito esperto e desenrascado para lançar a cena por conta própria.
 Foi isso que me fez crescer. Fez-me ficar tão famoso como Deus... desculpem-me a ironia.
 Fazem isso com todos, tenho vários amigos que não gostam das interpretações dos leitores referentes ao que eles escrevem. E os leitores não vão entender o que eu escrevi. Nem eu entenderia, se alguma vez tivesse lido aquilo tudo que escrevi. Não tenho pachorra, a sério.
 Mas a verdade é que eu vinha de uma noite boemia, meio tocado das minis e com alguma frustração sexual por não haver gajas boas no bairro alto naquela noite. Eu só desabafei. Foram uns quantos livros que fiz para ali, e passei a noite inteira a escrever com as mãos a cheirarem a cerveja, mas foi um desabafo. E os pobres coitados levam-me aquilo como uma lei.
 Acho desnecessário essa tamanha importância exacerbada quanto a um simples livro. É um livro, meu. E eu nem o meu último nome escrevi lá. Mas agradeço, porque na verdade não posso fazer muito mais que isso quanto a esse assunto. Acho graça. A sério, acho, acho. Eles divertem-se com aquilo, quer dizer, acabou por ser o livro mais conhecido do mundo.
 A minha mãe chamava-me de convencido, quando aquilo começou a ser mundialmente conhecido e tal. Também tinha amigos que me chamavam player. Os tugas dizem que eu sou A Voz. Dá para rir um bocado com os nomes e categorias que me põem.
 Gostava de saber o que vão pensar quando eu morrer, ou o que vão escrever na minha lápide quando eu me cansar disto e decidir beber umas minis até cair. Isto é se souberem que eu morri. Mas olha, até Deus queira que não - desculpem-me lá a ironia, estou bem disposto hoje -, porque se não até isso vão levar a sério. Eu brinco com eles e eles levam-me a sério. Não sei se acho graça a isso todos os dias. E chego a rir disso com Asmodeu, quando vem à praia beber uns copos comigo.



4 comentários:

  1. és mau. não chega bateres neles, ainda os humilhas.
    és cabrão. não chegam as intrigas, ainda sais com um sorriso.
    és filho da p*ta. não chegam os cheiros, ainda levas o pedaço que carne que mordeste.

    e como se o mundo nascesse das rosas, num parto iridescente, gritas no teu maior suspiro que o és. mau, cabrão, filho da puta. (não gostas das meias palavras, di-las bem com força ao ritmo que lhe cofias as trombas.)
    ... e no final de tudo, ainda és o rei. ainda tens a coroa e a espada.

    (acho incrível. fantástico.)

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  2. ah, estou pelas metáforas.

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