27 agosto 2012

Bela



Como diz o meu amigo Peixoto, é impressionante como conseguimos ter tão diferentes fisionomias apenas com tão poucos elementos básicos como os olhos, nariz, boca, orelhas e cabelo. Afinal, somos arte porque a arte é uma descoberta milenar que se encontra no zero, número infinito e absoluto para os deuses.
Confesso que talvez já tenha estado com os melhores. Talvez já tenha estado com deuses e nem ter dado por isso. Só agora caio em mim, percebendo que já me levaram ao céu e eu nem dei por isso. Percebes? Eu senti-me no céu, com deuses. Eu só não sabia da possibilidade de estar mesmo com deuses no céu. Quem sabe, seja essa a razão pela qual eu esteja de volta. Talvez tenha mesmo estado com os deuses numa cama gigante e que tenha começado com Baco, daí eu não me lembrar de nada. 
  Mas é-me difícil dizer-te que há estética na face de alguém. Na verdade, não há estética na cara da maioria das centenas pessoas que vejo, todos os dias, na baixa da capital. Quem sabe eu tenha de ir a uma galeria de arte, cultivar-me mais, a um atelier de qualquer-coisa-bonita para entender, sagradamente, os conceitos de simetria, estética e anatomia. Pedras no chão, que o belo ainda hoje se discute nos livros de filosofia e dos entendidos.  
 Porque as fotografias já não chegam. As festas só duram horas e as roupas estragam-se com os anos. A beleza e a personalidade não costumam andar de mãos dadas e descobre-se aos 30 que os cremes não eram tão bons . Se eu tentasse descobrir o que é a beleza, eu diria que se encontra numa cama às oito da manhã, com olheiras que nos cumprimentam acompanhadas de um hálito oito horas de jejum. É cada vez menos possível ser belo. Se eu tentasse descobrir o que é a beleza, eu prometeria que é ser-se simétrico e saber-se disso sem qualquer orgulho.É agir tão bonito como a cara se faz ver.

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